Sobre o Dicionário

Sobre o Dicionário



   O dicionário é um instrumento linguístico conhecido e reconhecido no interior da cultura escolar. Cada um de nós já consultou um dicionário e ainda o consultará muitas vezes, seja para solucionar uma dúvida ortográfica, seja para saber mais sobre o sentido de uma palavra.
Esse gesto é do senso comum, o que talvez nos tire desse lugar comum é a possibilidade de ver a língua como um jogo! Isso mesmo, um jogo que se constrói a cada jogada.

Algumas regras estão postas desde o início, mas não sabemos nunca como esse jogo vai se desenvolver e como vai terminar. É dessa perspectiva que surge a ideia de construção de um Dicionário Compartilhado, elaborado essencialmente por crianças e jovens em idade escolar, cursando o ensino fundamental.

   O que significa dizer que construímos um Dicionário Compartilhado? É a psicóloga e professora Camilla Biazus que nos ensina, para ela as palavras estão todas por aí, à deriva, esperando para significar no mundo, e as palavras só existem e fazem sentido quando são partilhadas, compartilhadas entre os falantes
Assim, se constrói a ideia de um dicionário diferente, feito por gente como a gente, que fala essa língua - que está e que não está no dicionário comum - e que dá sentido para as palavras e as coisas do mundo que se constrói a cada novo dia na fronteira.
      E o que significa fazer um Dicionário Compartilhado de Língua de Fronteira? Significa reunir crianças e jovens que estudam em escolas da região da fronteira do Brasil com a Argentina para pensar sobre essa língua, que é falada na fronteira e que constitui sentidos.
É provocá-los a refletir sobre a língua que faz deles o que eles realmente são. A língua da fronteira é a língua portuguesa do Brasil, mas também é outra, é regional do Rio Grande do Sul e é atravessada pela língua espanhola falada do outro lado do rio.

      Foi com o propósito de elaborar um despretensioso Dicionário Compartilhado de Língua de Fronteira que o Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Letras (UFSM) firmou par ceria com o PEIF, coordenado pela Profª. Dr. Eliana Sturza, o ano de 2014.

Os Dicionários que os alunos das escolas de fronteira do município de Itaqui elaboraram, sob a orientação das Petianas de Letras (sob minha supervisão), e com a colaboração dos professores de Língua Portuguesa e Espanhola das escolas, é despretensioso, porque não tem o objetivo de dar conta da totalidade da língua, bem como não corresponde às expectativas formais de um dicionário elaborado por especialistas.
Trata-se do desenvolvimento de um projeto que visa levar os alunos a refletirem sobre sua própria língua, sobre sua condição de fronteiriço, sobre a formação de uma identidade linguística e cultural diferenciada. Acreditamos que esse trabalho contribui para a formação de sujeitos que falam a língua, que pensam sobre ela e que vão construindo sua cidadania com orgulho de ser um “sujeito da fronteira”.
      O PET Letras – UFSM está muito orgulhoso do resultado que se apresenta agora em forma de Dicionário. É importante destacar que nada do que está reunido neste livro seria possível sem a confiança que a coordenação do PEIF e as escolas depositaram em nós. Foi um trabalho de equipe: universidade, PEIF, PET, professores e alunos das escolas, comunidade de Itaqui em geral.       O leitor encontrará aqui um pouco dos falares que circulam na região de fronteira,
são palavras e expressões escolhidas pelos alunos do sétimo ano do ensino fundamental. As definições, os exemplos e os sinônimos pensados por eles foram mantidos, sem filtro, sem censura. Quanto a nós, petianos... apreendemos muito com os falantes da região da fronteira e entendemos que há ainda muito a saber sobre essa língua que é deles e que também é nossa.

Verli Petri
Tutora do Pet Letras - UFSM